A vida no engenho
de açúcar na colônia brasileira.
Fonte: Nelson Piletti e Cláudio
Piletti. História e Vida Integrada.
6ª série. Editoar Ática. São Paulo.
Trabalho escravo.
Os escravos são mãos e os
pés do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer,
conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente. Por isso, é necessário
comprar cada ano alguns escravos e reparti-los pelas roças, serrarias e barcas.
Uns chegam ao Brasil muito
rudes e muito fechados e assim continuam por toda a vida. Outros, em poucos
anos ficam ladinos e espertos. Aprendem a doutrina cristã, constroem barcos,
levam recados e fazem qualquer trabalho. As mulheres usam de foice e de enxada,
como os homens. Os que desde novatos se meteram em alguma fazenda, não é bom
que os tirem dela contra sua vontade, porque facilmente se entristecem e
morrem. Os que nasceram no Brasil, ou se criaram desde pequenos em casa dos
brancos, afeiçoando-se a seus senhores, levam bom cativeiro.
(André João Antonil, Cultura
e opulência do Brasil por suas drogas e minas.)
O poder do senhor de engenho.
Se o escravo era as mãos e os
pés do senhor de engenho, este, por sua vez, era uma espécie de juiz supremo
não só da vida dos escravos, mas de todas as demais pessoas que viviam nos seus
domínios: tanto do padre que rezava a missa aos domingos quanto da própria
mulher, filhos e outros parentes.
A casa-grande, residência do
senhor de engenho do Nordeste, era, de fato, muito grande. Nos seus muitos
cômodos podiam viver setenta, oitenta ou mais pessoas. Reinava sobre todos a
autoridade absoluta do senhor de engenho, que decidia até sobre a morte de
qualquer pessoa, sem ter que prestar contas à justiça ou à polícia. Fazia ele a
sua própria justiça (...).
Além da mulher e dos filhos
do senhor de engenho, na casa-grande viviam os filhos que se casavam, outros
parentes, escravos de confiança que cuidavam dos serviços domésticos, filhos do
senhor de engenho com escravas e, ainda, agregados, que eram homens livres, que
nada possuíam e prestavam algum serviço em troca de proteção e do sustento.
A grande dominação do senhor
de engenho sobre tudo se explica pelo isolamento em que viviam e pela total
ausência de autoridade da polícia e da justiça. As cidades eram poucas, muito
pequenas e sua influência não se estendia aos engenhos. As poucas autoridades que viviam nessas
cidades ficam distantes dos engenhos, uns também muito distantes dos outros.
Assim, a dominação do senhor de engenho acabava se impondo. (...)
(Adaptado de Rodolpho Telarolli. O poder da família do senhor de engenho.)
Casamento: um acerto
entre famílias.
Ao contrário do que acontece
hoje, os casamentos não eram feitos por escolha individual; não eram os noivos
que decidiam o casamento, depois de um período de namoro. A escolha era feita
pelos pais e não levava em conta a afetividade, a atração de um pelo outro.
Eram outros interesses que prevaleciam, principalmente os de parentesco, afim
de que as fortunas, por meio das heranças, ficassem entre poucas famílias. Por
isso eram comuns os casamentos entre primos e entre tios e sobrinhas.
Depois do casamento o casal
passava a mor na casa do pai da moça ou do pai do moço. O filho mais velho
tinha autoridade sobre os mais novos, que o tratavam com respeito e podiam ser
por ele castigados. Era uma espécie de preparação para substituir o pai, quando
este morresse.
(Adaptado de Rodolpho Telarolli. O poder da família do senhor de engenho.)